ANDERSON KALTNER _ entrevista por Marco Andreol
FONTE entrevista ANDERSON KALTNER
por Marco Andreol
• Anderson Kaltner é artista. Sua prática inclui produçāo musical, trilha sonora, composiçāo, performance, instalaçāo, colagem e multimídias. Tem o som como principal elemento de seus trabalhos. Apresenta um live-set autoral em que experimenta texturas, variaçōes e viagens sinestésicas pelo espaço-tempo. Atuou em diversas bandas e na música eletrônica estreou com seu projeto Nuvens & Tormenta dedicado a Live Acts e Arte Sonora, em 2017. Em 2020 lançou seu primeiro EP – ANA/KATA – em formato fita cassete e livreto pelo selo NFTR Records. A FONTE o entrevistou para o evento do próximo dia 10 de Dezembro de 2022.
Segue.
A música TONAL importa?
• Sempre levo em consideração a tonalidade da música, mesmo que nem tudo esteja harmonizado. Não tenho a pretensão de ter o controle absoluto de todas as frequências, até porque muitos sons são orgânicos e frequências altíssimas do white noise.
A textura tem relação com o timbre, para além da senoide todo o instrumento tem suas ondas sonoras específicas – isso eu já considero textura de certo modo. Na produção gosto de acumular e sobrepor camadas.
E que faz parte da construção da música?
• Sim! Depois que comecei a fazer Eletrônica conheci o Dub e me identifiquei com o procedimento em que a mesa de som é o instrumento principal, primeiramente na questão do volume, em poder ter algumas faixas, organizá-las em looping, efeitos e assim compor a partir de pequenas variações.
A peça que vc apresenta pode mudar de acordo com a situação do momento?
• Algumas faixas são preparadas e outras alteradas, principalmente em relação ao espaço e a resposta do público.
Você sente que hoje há mais interesse do público em relação a uma música cujo gênero é indefinido, experimental de verdade?
• Com certeza. Em São Paulo já vejo isso e em Berlim é muito forte e aceita bem o experimental. Já existe um lugar de mercado consolidado. No Brasil vem mais da Academia.
Como funcionam esses eventos em Berlim para o público?
• Funciona bem quando o evento se apresenta como artístico além do entretenimento. Isso muda a proposta, o formato. O último evento que participei em Berlim foi o Objekt4000, foram três dias consecutivos de festival onde havia arte sonora e rave, ambos com a mesma importância. A proposta era justamente esse deslocamento, a conversa entre uma coisa e outra. Eram outros espaços além da pista – haviam sons rotativos, peças sonoras rondando em looping
O que você acha da separação acadêmica que segue uma perspectiva história da Música Experimental e o artista mais livre?
• Além do trabalho autoral eu também faço essa pesquisa acadêmica na Sonologia, mas não vejo assim tão dicotômico como você colocou. Existem várias perspectivais pessoais, alguns mais focados na engenheira, outros na estética – eu sou mais da estética e da emoção, a minha pesquisa, tanto artística, quanto cientifica, não entra na engenharia.
O que mais você usa para compor?
• Eu também vou muito pelo visual: de como a onda se comporta no espectro sonoro para fazer o desenho de som. Percebo que no meu próprio processo venho acelerando a dinâmica das músicas.
Como você definiria sua música?
• Experimental mesmo, acho importante essas definições surgirem posteriormente. O experimento é risco, às vezes envolve improvisação. A concepção do trabalho é conceitual, por exemplo: No “The Coffee Performance” [nome da peça], gravei sons do maquinário que produz café e o som dos grãos em contato com a superfície, dali parti para alcançar certa estética. Como o trabalho finalmente se desenrola depende, como disse anteriormente, do espaço.
Então você costuma captar o material sonoro.
• A coleta dos sons não é o fator principal, mas é comum fazê-lo. Às vezes basta uma ideia, como, por exemplo, estive na semana passada numa cooperativa de reciclagem e ali gravei alguns sons, o processo começou ali como inspiração, depois dependerá da máquina, do computador em que vou processar os sons para a composição.