ENTRE UNIVERSOS _ Entendendo a Psicoacústica

• por Alain Patrick_

Talvez o termo “psicoacústica” lhe seja familiar, ainda que você não faça ideia muito clara da sua importância. O fato é que a psicoacústica, não por acaso, representa um campo de estudo essencial para a música, e mais especificamente para a música eletrônica, e por diversos motivos. Em primeiro lugar, porque aborda a nossa percepção do som, e como o nosso sistema auditivo processa os vários estímulos de áudio que recebemos quando ouvimos. Em segundo, porque, devido ao seu caráter multidisciplinar, trata-se de uma ciência capital para os universos do áudio e da música. E em terceiro, porque o seu desenvolvimento como área de conhecimento contribuiu para um salto da própria tecnologia sonora. Basta ver a proliferação das opções de plugins e de stand alones que, com as novas tecnologias adequadas à nossa forma de perceber o som, têm encantado os exigentes produtores e os distintos ouvintes da música sintética. 

Mas antes de falar de sua aplicação na música eletrônica e experimental, tema desta coluna, vale lembrar o porquê desta área de conhecimento ser tão importante e complexa: a psicoacústica envolve elementos de diferentes áreas do áudio e da ciências cognitivas, a saber: eletrônica aplicada ao áudio, acústica, produção musical, mixagem, teoria musical, fonoaudiologia, neurociência musical, só para citar algumas. Portanto, um universo em que os experts não nascem de hora para outra – são necessários ao menos cinco anos de estudos intensos para se começar a dominar os princípios.

Ok. Dito isso, quando aplicado à música eletrônica experimental, o estudo da psicoacústica oferece valiosas  contribuições:

Percepção e Experiência Sensorial: A psicoacústica oferece à música eletrônica experimental possibilidades de experiências sonoras únicas e imersivas. Compreender a psicoacústica ajuda compositores e músicos a projetar sons que podem ser percebidos e interpretados de maneiras distintas pelo ouvinte, aprimorando a experiência sensorial auditiva.

Design de Som e Síntese: Na música eletrônica experimental, o design de som desempenha um papel fundamental. Através dos princípios da psicoacústica, os artistas podem manipular elementos sonoros para criar ilusões, ampliar ou criar sensações através de efeitos espaciais e timbres não convencionais que desafiam as normas e expectativas convencionais.

Áudio imersivo e espacial: a psicoacústica fornece informações sobre como os humanos localizam as fontes sonoras e percebem a espacialidade e seus objetos sonoros pontuais. Esse conhecimento é inestimável para artistas que experimentam técnicas de áudio espacial e imersivo para criar ambientes sonoros em 360º.

Percepção ampliada de frequências e timbres: O entendimento desta valiosa ciência nos traz informações valiosas de como percebemos a diferentes faixas de frequências e timbres. Este know how permite composições, produções e mixagens com frequências que ressoem de maneira singular com os ouvintes, evocando as respostas emocionais distintas e intensas.

Ruídos artísticos, Síntese Granular e Música Textural: Na música eletrônica experimental, ruído e síntese granular são freqüentemente usados para criar elementos texturais. A psicoacústica pode fornecer informações sobre como os ouvintes percebem e interpretam esses sons complexos e abstratos, ajudando a refinar seu uso em composições.

Ilusões auditivas e novos recursos perceptivos: Ao alavancar fenômenos psicoacústicos, os artistas podem criar ilusões auditivas e experiências sonoras perceptivos que desafiam as expectativas dos ouvintes. Isso adiciona elementos surpresa e novidades às composições, dois dos grandes objetivos da música eletrônica experimental.

Mascaramentos e Definição: O mascaramento psicoacústico se refere ao fenômeno em que um som pode tornar outro som menos audível por causa da disputa que travam pelas mesmas faixas de frequências. Entender esses limites e relacionamentos ajuda os compositores e engenheiros de som a evitar interferências indesejadas e melhorar a clareza de elementos individuais em uma mixagem.

Compressão psicoacústica e faixa dinâmica: Na produção de música eletrônica, a faixa dinâmica e a compressão desempenham um papel crucial. A compreensão dos princípios psicoacústicos permite que os artistas comprimam o áudio de forma a preservar o volume percebido e manter o impacto emocional desejado.

Temos, portanto, uma valiosa área de conhecimento que nos permite entender como os percebemos o som, e o que é vital para artistas que buscam criar música eletrônica experimental inovadora e fascinante. Ao incorporar esses princípios, os músicos podem criar composições que não são apenas artisticamente expressivas, mas também emocionalmente ressonantes e sedutoras.