Future Electronica – A Música Eletrônica Contemporânea

Por Alain Patrick

A música eletrônica proporcionou, em sua história, ousados movimentos, artisticamente desafiadores. A despeito de ter seguido fórmulas em inúmeros momentos de saturação de seus sucessivos movimentos, ela soube se reinventar, cruzando fronteiras e permeando novos territórios estéticos. Se tomarmos como exemplo a música eletrônica contemporânea, a abstração sonora passa a se tornar um elemento importante, assim como distorção, ruído, sobreposições texturais, infinitas possibilidades timbrísticas, efeitos, vozes processadas, ente outros – substituindo as estruturas sonoras tradicionais por novas possibilidades de experiências auditivas.

Uma das marcas mais evidentes dessa nova geração de artistas é um novo patamar de manipulação do timbre e da matéria sonora. As obras passam a abandonar o formato sonoro tradicional, em favor de criações mais fragmentadas, não convencionais, e com uma atenção meticulosa ao design sonoro. Em vez de uma progressão rítmica, melódica ou harmônica tradicional, o foco recai sobre outros aspectos da arte sonora, a exemplo de camadas de texturas multiformes (e muitas vezes disformes) que se sobrepõem e se entrelaçam de maneira encantadora.

A distorção e o noise, que também representam elementos legítimos na composição, garantem novas possibilidades estéticas, assim como as granulações, glitches e oscilações instáveis; as atmosferas, ora mais densas, ora etéreas, ora disformes, trazem perspectivas distintas de imersão. O centro de tudo está na matéria prima sonora. É importante frisar que grande parte destas obras são construídas para serem experimentadas em sistemas de som que vão além do estéreo, portanto em ambientes de imersão, onde a multiplicidade de falantes permite a sobreposição de sutilezas texturais com uma infinidade de deslocamentos “object based”, ou seja, de sons locais, distribuídos e livres para se deslocar na esfera imersiva de forma independente. O fato é que a espacialização e os movimentos dos sons no ambiente passam a fazer parte da composição. A música deixa de ser apenas audição passiva para se tornar um envolvimento sensorial profundo, como uma experiência auditiva expandida.
Entre as novas narrativas sonoras que desafiam as categorias habituais de gênero neste novo Século estão as composições abstratas, texturais, Sound Art, Deconstructed club, Drone, Glitch, entre uma infinidade de outros gêneros que sequer têm nome, representando uma miríade de zonas híbridas.

A ousadia estética presente neste universo representa mais do que um mero exercício de experimentação e superação técnica: ela reflete um desejo de criar novas formas de escuta e de percepção sonora – obras que não se contentam em ser apenas entretenimento, mas que desafiam, tensionam e expandem os limites do que entendemos como som e música.

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