Musicalidade e Inteligência Musical

Musicalidade e Inteligência Musical

por Alain Patrick

• Pensar música sob tantos aspectos (cultural, técnico, histórico, entre outros) abrange também falar sobre musicalidade e inteligência musical – ambas profundamente interligadas. Afinal, o que significa e qual a verdadeira natureza da musicalidade? Musicalidade é, entre outras coisas, a capacidade que temos de apreciar e entender música, o que envolve uma série de habilidades específicas, que vão das aptidões de compreensão rítmica, melódica, harmônica, timbrística, estilística, de reconhecimento de altura, além da capacidade criativa musical, seja como ouvinte, musicista, produtor ou compositor. Certas pessoas têm esta musicalidade aflorada de forma inata, enquanto outras a desenvolvem com intensa audição musical no decorrer do tempo, além, obviamente, do aprendizado do teórico e prático dos instrumentos musicais, das produções musicais, composições ou das habilidades de canto. Uma vez que o desenvolvimento da musicalidade envolve um conjunto de capacidades auditivas, cognitivas e emocionais, a musicalidade faz parte de um universo bastante complexo e de grande pesquisa, tanto pelos músicos quanto pelos profissionais de áudio, fonoaudiologia, filosofia, genética, história, educação e neurociência musical.

A verdade é que não há um responsável único pelo desenvolvimento da inteligência musical, e sim, inúmeros atores, que operam simultaneamente: o sistema auditivo externo e interno, o cortex auditivo, as respostas motoras, o sistema límbico, só para citar alguns dos protagonistas da nossa mente musical.

A verdadeira natureza da musicalidade ainda é alvo de grandes pesquisas, estudos e debates acadêmicos. O fato é que o desenvolvimento da musicalidade e da inteligência musical tem um impacto direto no bem estar, na inteligência emocional e lógica, na capacidade cognitiva e no nossas interações sociais.

Qual a conexão entre a musicalidade e os nossos sentimentos gerados pela música? Robert Jourdain, neurocientista musical, disse certa vez que “o mundo interior dos sentimentos não consiste em elementos dispostos em posições específicas no espaço-tempo, mas sim, em um contínuo turbulento, onde as diversas intenções trafegam através das inúmeras vias do nosso sistema nervoso.” Daniel Levitin, em seu livro ‘This Is Your Brain On Music’, fala sobre o fenômeno musical como “percepção ilusória criada em nossos circuitos neurais”. Notas, intensidades, ritmos, harmonias, melodias, existem na nossa mente, como sensações geradas pelo nosso cérebro, e não como fenômenos externos.

A pergunta que se coloca é: por qual motivo a nossa mente é projetada para se encantar com música, ou arte em geral? A percepção, segundo o próprio Levitin é de que a mente humana foi projetada para achar a música e a arte fascinantes através de um mecanismo que inclui elaborados sistemas de recompensa que geram respostas a determinados estímulos. Isso significa que temos uma engrenagem cognitiva que é capaz de nos proporcionar respostas cada vez mais intensas a estes estímulos auditivos, como a construção de uma estrada de sensações que, com o passar do tempo e do uso, se torna cada vez mais rica, complexa e emocionante. Da mesma forma, vale para estímulos que não apreciamos, como vias que são construídas que levam a sensações de desagrado e que passam a ser ‘indesejáveis’, o que pode explicar a antipatia que temos naturalmente por certos estilos musicais (vale lembrar que cada um possui um complexo neural único e de preferências pessoais singulares). Quais são então os estímulos necessários para que tenhamos uma musicalidade rica, abrangente e de grande potencial? Tudo depende, como mencionamos acima, de uma série de fatores, que vão do nosso meio à educação, e às heranças genéticas; mas o fato é que o aprendizado musical desde a primeira infância é um elemento primordial para o desenvolvimento da inteligência musical.

Não temos a pretenção aqui de oferecer respostas definitivas, mas sim de convidar a uma pesquisa mais aprofundada sobre o tema que tem sido alvo de tão importantes pesquisas.

 

Convidamos vocês à leitura destas obras:

 

This Is Your Brain On Music – Daniel Levitin
Music, The Brain and Ecstasy – Robert Jourdain
Musicophilia – Oliver Sacks
Música, Mente, Corpo e Alma – Monique Aragão
Your Brain On Music – Laura I. Sanders
Incognito – David Eagelman
Acoustics and Psychoacoustics – David Howard
O Som e o Sentido – José Miguel Wisnik

 

 

Alain Patrick (Electronic Standards / Soul & Sound)
 

*OMNIA VINCIT ARS*
*MUSIC IS SPIRIT*
*”CONTRE LA SERVITUDE VOLONTAIRE”*

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *