Montando uma Maquete Sonora para “Imaginary Festival” de Burial
Recomendar Burial em 2025 é o mesmo que falar sobre Cinema Novo ou Godard. Já são absolutos, senso comum. Mas não é isso o que eu vim dizer, por que acho que quero novamente compartilhar algo pessoal. Não em tom de novidade, mas talvez um desabafo(?)
Vocês já deitaram num quarto escuro, sob o absoluto silêncio e os ecos da madrugada? Talvez seja um bom momento para tocar, no alto falante do celular mesmo e o mais baixo possível, algo como “Imaginary Festival”.
Um som delicado como esse não consegue vencer o barulho de uma grande cidade. Não importa o quanto você aumenta o volume do fone de ouvido, pelo fato do Burial não se apegar a Qualidade da fonte sonora, a música vai perdendo muito rápido a profundidade e aquela camada de feitiço que eu não consigo mais entender o que é. Já no silêncio, da mesma forma que o sussurro faz, essa massa de som te arrepia novamente. Procuro fenômenos para explicar o sentimento, e só consigo lembrar daqueles takes onde a câmera observa tudo do alto. É como se o quarto tomasse a proporção de um galpão frente ao som do celular, e tudo na música fica mais claro.
Não sei, antigamente os aparelhos eram menos fidedignos e mesmo assim a música soava muito bem. Acho que para sentirmos completamente a música fantasmagórica, devemos buscar um zoom out sonoro da nossa dimensão. Esperar a noite chegar, fechar a janela caso more em um bairro muito barulhento, ouvir o silêncio e então tocar algo que te leve pra algum lugar distante. Como construir uma maquete sonora de uma rave (No caso do Burial) que você consiga analisar sem fazer parte.

