YAN HIGA _ entrevista por Marco Andreol (em vídeo)

FONTE entrevista YAN HIGA

por Marco Andreol em VÍDEO

• Yan Higa é um dos principais expoentes da música experimental de pista e além. Distancia-se tanto de regionalismos quanto de paralelos europeus. Higa criou seu próprio universo imagético-sonoro no qual seu corpo é inserido. Questiona gêneros, moldes e ainda gere seu próprio coletivo [o ACTA] e selo onde lança compilações que revelam artistas similares.

Esta é a primeira entrevista da FONTE – realizada em 14 de Abril de 2022 no Centro Cultural Vergueiro (SP).

Apesar de bastante produtiva (e para compensar o delay) conversei novamente com Yan nesta semana para atualizar o assunto.

Marco: Nesse meio tempo o Calmaria saiu e se desenvolveu. Como está agora?

Yan: O Calmaria surgiu como ideia de coletânea para inaugurar o selo que acabou mudando de nome – virou ACTA, e o coletivo também. Para a curadoria dos artistas imaginei uma paisagem pós-antropocénica, de novas ou pós-espécies surgindo nesse novo contexto do Brasil e da América Latina – todos ali são brasileiros. Como obra conjunta é um refúgio, eles juntos fazem muito sentido para mim.

O Calmaria vem de uma consciência ambiental, de uma eco-ansiedade e contemplação estética da natureza, não só a natureza visível, acessível, mas também a imaginária – uma especulação de como seriam esses novos organismos, estruturas naturais, paisagens na pós-humanidade. Ali eu consigo unir linguagens que se comunicam de alguma forma, considerando as distâncias ideológicas, estéticas e culturais entre os produtores, que são pessoas com quem eu mantive algum contato afetivo no sentido de falar com e sobre elas, mantendo uma sensibilidade para além do web working.

O ACTA também une meu trabalho escultural ao conceito musical. Construí diversas esculturas para a natureza e lá as registrei, lancei exposição online com poemas meus e essas imagens com colaborares do ACTA, como o Guilherme Ferreira e a Aun Helden. O Calmaria assim concretizou-se.

Foi a partir disso que comecei a entender o ACTA como refúgio, mas não no sentido prático – nós não temos recursos ou estrutura para acolher, sustentar e proteger corpos – mas no sentido intelectual, estético e de linguagem, de entrar em sintonia com esses outros seres fazendo com que, naquele momento e lugar, eles sintam que pertencem a algo além do que a cultura massificada e as noções de indústria e mercado podem oferecer, um mercado que impera sobre tudo: a arte, a música, e que define o comportamento das pessoas, as relações sociais, como elas se tratam e destratam. Acredito que por trás desse processo de massificação sempre irá existir uma contracultura, mesmo que seja um sussurro que ninguém esteja notando; e mesmo que esses artistas um dia consigam espaço, outros depois surgirão. Nossa busca é pelo desconhecido, pelo que não está sendo mostrado, performado, e ainda não palatável.

Portanto, o ACTA é resistência de contracultura. Eu vejo uma saturação dos ciclos sociais dos quais já pertenci, das músicas, dos eventos, do comportamento. Eu me afastei disso e vi quais eram as pessoas que também se afastaram, são justamente elas a quem continuo conectado. Somos uma comunidade que se enxerga como resistência e abriga esse submundo, mas com sofisticação e habilidade para ressignificar os recursos que temos, ainda muito limitados, principalmente considerando a complexidade do nosso trabalho, a execução e o refinamento que buscamos.

Creio que vamos além do que acontece em São Paulo como cena de música eletrônica, que é mais voltada a status e a identidade de uma comunidade maior, proporcional à cidade; o ACTA, em vez disso, vai percebendo o que e quem se desvia daquilo e (re)coleta, (re)conjuga esses seres. Nós não nos sentimos mais acolhidos por esses espaços da grande cena, não por insegurança, mas porque me sinto desconfortável, rejeitado, não é o público com quem eu gostaria de estar, sinto falta de um espaço tão grandioso como o dessa cena, mas com linguagens que são mais familiares ao nosso coletivo.

Ouça a coletânea CALMARIA do ACTA

Marco: Há algo que mudou nesses 7 meses que passaram?

Yan: Só queria dizer que na entrevista acabei citando menos universos musicais nacionais e periféricos do que de fato existem – há o Drill, o Grime, todas as estéticas variadas do Funk, etc., e há os periféricos internacionais também. Na minha pesquisa existem todos esses sons que amo, não rejeito nenhum, mas procuro me afastar da ideia de eventos que procuram separar ou identificar grupos de pessoas através de gêneros musicais.

Créditos do vídeo

Roteiro_ Marco Andreol
Câmeras_  Tales Ferreira e Giulio Carlo
Produção visual_ Tales Ferreira e Giulio Carlo
Edição de vídeo_ Caroline Borba e Isadora Bomeny
Local_ CCSP
Agradecimentos_ Rodolfo Beltrão (CCSP)

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